sábado, 29 de maio de 2010

Modelos plus size - gordinhas também são filhas de Deus




RIO - Qual o seu manequim?", perguntou uma indiscreta desconhecida à imigrante brasileira Fluvia Lacerda, alguns bons quilos acima do peso, num ônibus em Nova York. Todos os passageiros em volta olharam abismados para a mulher apressada e sem noção.

- Achei um desaforo ela perguntar aquilo - lembra Fluvia, na época com 22 anos e jeans tamanho 48.

Tratava-se de uma editora de moda americana que rapidamente se apresentou, para quebrar o gelo, entregou seu cartão de visitas e explicou, em seguida, o motivo da pergunta insólita. Ela queria saber se a jovem brasileira nunca tinha pensado em ser modelo, informando-lhe a existência de um iminente mercado de moda para mulheres gordinhas com agências especializadas em modelos plus size, que vestem entre 44 e 48. Assim como surgiu, de súbito, a editora de moda, irritada com o engarrafamento em Manhattan, desceu do ônibus e seguiu seu destino a pé.

" Se eu morasse aqui, acho que pularia de um prédio, pois não tem onde comprar roupa, e as vendedoras te olham com preconceito "

Fluvia chegou em casa, ainda tonta com a proposta, conversou com o marido, um imigrante australiano, e decidiu ligar para a agência indicada pela editora. E foi assim, descoberta na rua por um olheiro - como aconteceu com tops como Adriana Lima e Carol Trentini -, que Fluvia virou modelo:

- Tenho 29 anos, nunca fiz dieta na minha vida e não me peso. Eu sempre fui em paz comigo mesma. Vejo que as mulheres se tornaram prisioneiras de dois números: o da etiqueta e o da balança. Eu não entro nessa.

Contrato com a Ford Models

Ela é a tradução da tendência nas publicações de moda de mostrar uma beleza natural, mais próxima da realidade. Revistas como a "Elle" francesa, a "Vogue" Paris e a "Glamour" americana publicaram ensaios, e até edições especiais, com modelos plus size, valorizando as curvas e a sensualidade de mulheres acima do peso.

- Isso não poderia ter nascido se não fosse uma demanda da própria consumidora - justifica a brasileira.

No Brasil, o tema começa a ganhar força - apesar da resistência de muitas editoras de moda - e se traduz, no mercado, no lançamento de uma revista voltada para este segmento e no projeto da atriz Fabiana Karla, protagonista da peça "Gorda", de abrir uma multimarcas e lançar uma linha de roupas.

Ensaio com Fluvia Lacerda. Foto: Alexandre Sant´Ana/Agência O Globo

No Rio, a loja de aluguel de roupas "Só a rigor" investe na confecção de peças mais fashion, de olho nas mulheres acima do peso que não querem mais se vestir como senhoras de idade. Por outro lado, as consumidoras parecem continuar inibidas no que se refere a cobrar das grifes tamanhos maiores - reclamam disso com as amigas, mas não enviam tantas cartas e emails quanto seriam necessárias para tentar modificar a restrição que existe em boa parte das marcas de vender apenas do 36 ao 42. Tamanho 44 aqui é coisa rara.

- Se eu morasse aqui, acho que pularia de um prédio, pois não tem onde comprar roupa, e as vendedoras te olham com preconceito. Em Nova York, tenho roupas de Calvin Klein, Zac Posen, Michael Kors. Sei onde vou encontrar essas peças e sei que não estarão escondidas na loja. Eles divulgam. E não tem porque não ser assim, é um mercado enorme. Negócios são negócios. A consumidora brasileira tem que usar sua voz.

" As mulheres parecem achar que só o magro tem valor. E se envenenam física e mentalmente para alcançar um ideal que muda sempre "

Fluvia faz sucesso nos Estados Unidos, com campanhas para marcas como Target, Lisa Parker e a espanhola Biluzik, em revistas e outdoors. Ela veio a São Paulo neste mês de maio para fechar um contrato com a agência Ford, que a representa também em Nova York. Há um ano, a modelo decidiu investir o próprio dinheiro para tentar ampliar este mercado para tamanhos grandes no Brasil. Quer dirimir preconceitos e chamar a atenção de grifes que ignoram mulheres que vestem acima de 42.

- Tem marcas que até querem fazer campanha, mas pagam pouco, não querem gastar com fotógrafo e produção. Aí não tem mesmo como as fotos ficarem boas.

Ensaio com Fluvia Lacerda.Foto: Alexandre Sant´Ana / Agência O Globo

Em um ensaio exclusivo para o ELA, no Rio, Fluvia mostrou que estampas grandes e peças brancas também caem muito bem em mulheres mais gordinhas. No dia a dia, a modelo aposta em peças justas na cintura, saias evasê, bermudas e comprimentos nos joelhos.

Mãe de Lua, de 9 anos, Fluvia tem uma rotina saudável em Nova York. Anda de bicicleta, faz bikram ioga e musculação e é quase vegetariana. Detesta McDonald's e fast foods do gênero. E, diz, faz exames anuais que confirmam bons índices de colesterol, triglicerídeos e afins.

- No Brasil, a gordura é vista como doença. Aqui, as pessoas não têm filtro, falam o que pensam. Sempre tem uma tia que diz que tem uma dieta ótima para você. Quem disse que eu quero? Acho que essas críticas refletem como a própria pessoa se sente consigo mesma. As mulheres parecem achar que só o magro tem valor. E se envenenam física e mentalmente para alcançar um ideal que muda sempre.

3 comentários:

  1. A modelo é realmente muito bonita, mas a modelo q esta na praça tirando fotos com duas câmeras é muuuuuuuuuuuito mais.
    É muito bom conhecer o teu blog.
    Grande abraço.
    Ed

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  2. Eu gostaria de ser uma modelo pus size...mas nao sei aonde encontrar uma agencia boa...de confiança na minha cidade....no casao em niteroi-rj.
    Essa moda de modelos de plus size é muito bom,é diferenciado e deixa as mulheres mas sensuais...nao fica na rotina de um mesmo biotipo sempre,é muito bom variar ainda mas no nosso pais que existem tantas mulheres lindas...

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  3. Oi Fluvia assisti de Frente com Gabi com voce e me despertou uma grande vontade de ser uma modelo plus size voce poderia me indicar uma agencia em Campos dos Goytacazes pois nao conheco nenhuma aqui.
    obrigado
    Parabens pela mulher que voce é

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